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((((* "O QUE VEM SEMPRE ESTEVE AQUI, A PAZ ESTA DENTRO DE TI E SO VOCE PODE TOCALA, SER A PAZ SHANTINILAYA, NADA EXTERNO LHE MOSTRARA O QUE TU ES. NADA MORRE POR QUE NADA NASCEU, NADA SE DESLOCA PORQUE NADA PODE SE DESLOCAR VOCE SEMPRE ESTEVE NO CENTRO, NUNCA SE MOVEU , O SILÊNCIO DO MENTAL PERMITE QUE VOCÊ OUÇA TODAS AS RESPOSTAS" *)))): "ESSÊNCIAIS" "COLETÃNEAS " "HIERARQUIA" "PROTOCÓLOS" "VÍDEOS" "SUPER UNIVERSOS" "A ORIGEM" "SÉRIES" .

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

CONVERSA DE BOTECO - DANILO LINS

conversa de boteco - danilo lins

Anthonio...estou te enviando algo que escrevi que talvez sirva à alguém. Talvez de uma forma mais lúdica consigamos tocar alguns corações e como ainda tem o link com textos e experiências de leitores, caso vc ache que pode trazer algum benefício, está aí. Entendo que o tempo é curto mas vá lá saber o que alguém precisa ler (ou ver) para se enxergar.

Abraço...Danilo


Não é do meu costume ouvir conversas alheias, mas não pude resistir. Explico. O meu intervalo de almoço é de duas horas e, como estava procurando um novo local para variar o cardápio, afastei-me um pouco da região onde costumava freqüentar. Encontrei um bar em que servem refeições e resolvi experimentar. Sentei-me a uma mesa na calçada, e passei a observar o local. Era um bairro tranqüilo, bastante arborizado. Voltei algumas vezes.

O movimento não é intenso, o que provavelmente contribui para garantir o emprego do único garçom, que nunca parece estar sintonizado. O ambiente interno é bom, boa música, bebidas sempre geladas, mas o principal, que deveria ser o almoço, poderia ser melhor. Para ser honesto, penso que não teria voltado tantas vezes se não fosse pelo interesse no diálogo travado com entusiasmo pelos três amigos que freqüentavam assiduamente a mesa ao lado da minha.

Os três, pelo que pude perceber, são conhecidos de longa data, e possuem entre 35 e 40 anos. Chegam quase sempre pouco antes de mim, e com certeza, sempre vão embora depois de mim, o que me causa inveja. O papo é regado à cerveja e tira-gosto, volta e meia interrompido pelo garçom que, não sei se querendo ser agradável, se intromete com gracejos nada bem recebidos pela mesa.

No começo, o fato de eles ficarem bebendo quando deveriam estar trabalhando me incomodava, mas aprendi ouvindo-os que, na verdade, era eu que estava fora de contexto. Eu nunca soube o que cada um deles fazia da vida, mas isso passou a importar cada vez menos.
Os assuntos eram os mais variados, mas posso afirmar com toda certeza que jamais vi ou participei de conversas de boteco com uma profundidade, sentimento, entusiasmo, enfim, com tanta qualidade como aquelas que tive o prazer de presenciar.

O mais interessante para mim era que apesar dos três terem opiniões diferentes acerca de determinados assuntos, cada um defendia seu ponto de vista com propriedade e eu me sentia confuso. Muitas vezes achei que os três tinham razão, e aí percebi o quanto me havia distanciado de temas realmente importantes para minha vida. Eu sempre agi como a maioria esmagadora das pessoas que simplesmente acordam, se banham, satisfazem suas necessidades biológicas, vão trabalhar, almoçar, trabalhar, ir para casa, assistir a novelas e programas vazios, telejornais manipulados e manipuladores, dormir, acordar...; eu não tinha opinião formada sobre nada, e o pouco de certeza que eu tinha era sistematicamente derrubado ora por um, ora por outro.

A eles não interessava quem tinha razão, e sim discutir, conversar.

Cinema, religião, filosofia, sexo, família, futebol, Deus, morte, vida, física, Einstein, Buda, Jesus, Gandhi, Hitler, guerras, política, mulheres, tudo.

Formulavam teorias no mínimo interessantes como daquela vez em que um deles, que acredita na doutrina espírita mas não se considera um adepto, procurou explicar a tão propalada frase que diz que Deus está em tudo, em nós, e disse que, se imaginássemos que cada um de nós irradia uma pequena luz, a evolução espiritual se daria da seguinte forma:

Nesta dimensão em que vivemos, uma pequena luz, representada por um ser humano, consegue iluminar pouco espaço à sua volta. Ao morrer, o espírito, representado como luz e tendo alcançado, por simples questão de sintonia, um novo padrão de vibração mais elevado, se uniria a outros dois espíritos ( o número não importa) transformando-se automaticamente em um novo ser que transmitiria a luz correspondente a três pessoas na dimensão anterior. Numa próxima etapa, da mesma forma que a anterior, este novo ser se uniria, em uma outra dimensão a outros seres, aumentando assim a luz do próximo ser resultante dessa união. Em algum momento, todos estariam unidos em uma única luz, Deus.

Era uma situação nova para mim, uma vez que eu não estava acostumado a questionar nada. Eu sempre me considerei um bom católico, freqüentava missas, de vez em quando, mas até um deles, que era ateu, conhecia muito mais a Bíblia Sagrada do que qualquer católico que eu conhecia, e mais, começaram, numa outra ocasião, a discutir sobre os textos apócrifos do Velho e do Novo Testamento. Eu jamais ouvira falar desses textos e imaginava que, se existissem, deveriam estar confinados na biblioteca do Vaticano. E porque eu iria interessar-me por textos que a Santa Madre Igreja condenava? O que eu fazia era na verdade abrir mão da minha capacidade de questionar e aceitar todos os dogmas, não só os da Igreja, mas também os da vida.

Foi o ateu quem disse certa vez que Deus existia... para quem acreditava Nele.
Nunca vi qualquer um deles tentando afirmar sua crença ou descrença, suas idéias e teorias na marra. Havia sempre muito respeito.

De certa feita, durante uma discussão acalorada sobre o universo, o universo de cada um, diálogo que eu não me atrevo a reproduzir simplesmente porque não conseguiria, um deles insistiu em que os outros dois estariam envolvendo-se muito profundamente, e que era muito importante, até imprescindível, a utilização da Rede de Segurança. Neste dia eu liguei para o meu chefe e disse que estava passando muito mal e que não poderia voltar à tarde. Não perderia por nada o desenrolar desse mais novo assunto. Afinal de contas, o que seria essa tal Rede de Segurança? Como não ia mais trabalhar naquela tarde decidi tomar também uma cervejinha.
Compreendi que o rapaz tinha razão. Não é como um trapezista que, depois de treinar exaustivamente, parte para a apresentação sem a rede embaixo, apesar do que, eu já vi números em que os trapezistas não abriam mão da rede. É... .
Eles discutiam a própria existência, o sentido de tudo. Estavam a procura da verdade, e talvez este salto poderia ser mortal. Nada mais lógico do que se equipar com a Rede de Segurança.

Tenho que admitir que minha vida mudou muito desde então. Eles citavam nomes de filmes, autores, letras de músicas, de maneira que eu passei a adquirir novos produtos e aprendi a inquirir, procurei ver outras possibilidades e senti certo medo. Agora eu me sentia mais angustiado, solitário, sufocado, mas não conseguia desligar-me como antes. Talvez fosse isto, eu nunca estive ligado, e agora eu sentia energia pulsar em mim. Apesar do novo, eu gostava. Eu sentia que estava mudando de faixa, sintonia, ou algo assim.

Procurei exercitar como Rede de Segurança a mesma que um deles utilizava, que era a de cuidar da sintonia, procurando ter o domínio do momento, compreendendo que várias situações podem coexistir e que cada um de nós pode migrar para qualquer faixa, tal qual a mudança de estação de uma rádio para outra.

Li muito. Assisti a filmes maravilhosos, muitos eu já tinha visto, mas agora era diferente. Abri a porta para o infinito.

Olhava para o céu a espera de ver um disco voador que viria derrubando culturas milenares, enterrando religiões, confrontando o nosso Deus, ou o Deus de muitos.

Fiquei quinze dias fora viajando a serviço, e voltei ansioso ao boteco. Eles não estavam lá. Voltei no dia seguinte e novamente nada. Fiquei com vergonha de perguntar ao garçom e retornei no terceiro dia. Eles não estavam lá. Eu estava muito ansioso para me sentir envergonhado e perguntei ao garçom sobre os amigos da mesa do lado.

O garçom me explicou que não estavam mais deixando-os saírem. Mas quem? Quem não os deixava sair? Saírem de onde?

- Dali!!!

O garçom me apontou o quarteirão em frente. Eu não conhecia a região. O quarteirão era enorme e ele todo era cercado de um alto muro. No final da rua havia o que deveria ser uma entrada e me encaminhei para lá para saber do que se tratava. Não precisei chegar à portaria. A placa dizia tudo:

CASA DE SAÚDE PARA DOENTES MENTAIS.

Saí meio atordoado. Não podia acreditar, mas também não tive muito tempo para pensar. Estava descendo a rua de volta para o boteco quando alguém me chamou do alto.

- Ei; amigo!

Nunca ninguém me havia chamado assim. Realmente eu me tornei mais sensível. Olhei para cima e lá estava um deles que, sorrindo, me disse:

- Finalmente consegui escrever algo. É pra você.

Mandou do alto do muro uma folha de papel dobrada.

- Ah! Toma um copo pra mim.

Sumiu.

Voltei para minha mesa no boteco, pedi uma cerveja e li:

Digo, Insisto, Assim...

Vi, Inspirei-me Ruidosamente AEncontrar Materialmente Quem Unisse Elementos Afins

Viajamos Em Regiões Desabitadas Além Do Espaço Nulo Onde Situávamos

Somos Agora Lampejos Temporais Ambicionando Realizar Algo

Aprisionados, Oramos Silenciosamente, Observando Longe Homens Outrora Sãos.”

Fiquei pensando muito tempo e depois de reparar em todas as palavras com a primeira letra destacada em maiúsculo, pedi mais uma cerveja... e mais um copo.

http://minhamestria.blogspot.com

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