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((((* "O QUE VEM SEMPRE ESTEVE AQUI, A PAZ ESTA DENTRO DE TI E SO VOCE PODE TOCALA, SER A PAZ SHANTINILAYA, NADA EXTERNO LHE MOSTRARA O QUE TU ES. NADA MORRE POR QUE NADA NASCEU, NADA SE DESLOCA PORQUE NADA PODE SE DESLOCAR VOCE SEMPRE ESTEVE NO CENTRO, NUNCA SE MOVEU , O SILÊNCIO DO MENTAL PERMITE QUE VOCÊ OUÇA TODAS AS RESPOSTAS" *)))): "ESSÊNCIAIS" "COLETÃNEAS " "HIERARQUIA" "PROTOCÓLOS" "VÍDEOS" "SUPER UNIVERSOS" "A ORIGEM" "SÉRIES" .

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

EM & MM - MARTIUS DE OLIVEIRA

EM & MM



Hoje liguei para o meu irmão Helios para saber como ele estava e no meio da conversa, num tom que não disfarçava um ego massageado, ele havia me confidenciado que ganhara mais duas medalhas no campeonato interserrano de natação em Nova Friburgo. Legal! Eu reagi. Inacreditável eu ponderei em silêncio do outro lado da linha. Ele então me contou que após ter vencido o segundo tiro de 100 metros de nado borboleta, ele precisou ser gentilmente retirado da piscina pelos seus colegas de competição, mãos e braços amigos igualmente ofegantes, para subir ao pódio receber a medalha de ouro.

O motivo do ocorrido é simples. Meu irmão é portador de esclerose múltipla (EM). Observem, digo que é portador porque virtualmente nada me autoriza a dizer que ele sofra da doença, embora com ou sem ela, ele sofra tanto quanto qualquer um de nós. Naturalmente, a doença lhe impõe uma série de restrições, como por exemplo, não poder pegar muito sol ou fazer exercícios extenuantes. Ele ama andar de bicicleta e correr, no entanto, é incapaz de ter equilíbrio para executar qualquer dessas duas atividades. Passou anos deprimido se autodenominando “manco” sonhando que podia correr quando a realidade é que não podia. Um dia, cansado de sonhar com o que não podia, decidiu nadar... e descobriu que ainda nadava maravilhosamente bem! Assim que a doença teve início ele me revelou a dor ao colocar o decalque de deficiente físico em seu carro. Pouco tempo depois, descobriu que com ou sem decalque seu carro ainda podia ajudar a conduzir pessoas portadoras de EM e que não tinham transporte para ir ao Hospital. Após algumas sessões de tratamento de apipuntura (picadas de abelhas, que tem um maravilhoso efeito autoregulador sobre a doença) ele se propôs a ajudar seu novo amigo Tim, o apipunturista, a realizar o tratamento em outros pacientes. Hoje em dia, meu irmão se tornou um terapeuta de sucesso e trata gratuitamente seus pacientes, portadores, tais como ele. Quando tem alguma dúvida médica me liga para saber que conduta adotar. A bem dizer, aprendo muito mais com ele do que ele comigo!

A respeito do Tim há um fato curioso. Ele é advogado e mora em Juiz de Fora. No entanto, ele viajava uma vez por semana, de ônibus, para aplicar de graça o tratamento em outras pessoas – dezenas delas, diga-se de passagem, em um apartamento vago cedido também gratuitamente por uma senhora em Laranjeiras. O tempo foi passando e meu irmão foi lentamente assumindo a responsabilidade que lhe era passada pelo Tim até que finalmente o nosso amigo decidiu se “aposentar”, ajudando em Juiz de Fora e adjacências, passando finalmente o trabalho para o meu irmão.

Ligação encerrada. Votos fraternos de uma boa semana e a promessa de nos vermos no Natal. Fiquei pensativo como de costume, olhando através da janela de meu apartamento a multidão colorida que se movimentava infrene pelas ruas nessa manhã molhada e abafada rescindindo ainda a perfume de chuva. Num galho de um frondoso pé de cajá-manga, um casal de pardaizinhos também fitavam as pessoas abaixo.

Sinto uma agradável energia a minha volta, sento-me então para escrever:

"Podemos extrapolar esta idéia de portador de EM para muitas outras situações. Você pode, por exemplo, ser portador de “homossexualidade”, ser portador de “cor”, ser portador de “idade”, ser portador de “obesidade”, ser portador de “feiúra”, o quer que isso signifique para você, enfim... Mas se isso é um transtorno ou não e se vai sofrer ou aprender com isso já depende de uma escolha e portanto do seu livre arbítrio. No fundo, no fundo, mais que portadores de condições, somos todos portadores de crenças a respeito destas condições - em nós e nos outros. Em que pese o fato das condições em si não serem passíveis de mudanças o modo como nos sentimos em relação a elas é um ato de volição e portanto um ato de escolha."

Já não tenho tanta convicção de que a cura de uma doença seja necessariamente a sua sumária eliminação do corpo. Não faço desse argumento uma generalização. Espero ainda um dia ver a malária, a hanseníase e a tuberculose erradicadas. Mas muitas são as pessoas que se restabelecem de uma doença mas ainda continuam com a morbidade causativa. Um exemplo comum disso é a dependência às drogas, que muito amiúde é tratada e cuja morbidade compulsiva ainda permanece latente, sorrateira, sempre à espreita. Por outro lado, acompanhei pessoas que se curaram do sofrimento que o câncer lhes causava e aceitaram a sua dissolução física em paz.

Talvez a cura para a EM e tantas outras doenças ou condições que causam sofrimento ao ser humano não seja uma estóica luta tal qual é propalada nos doutos meios acadêmicos dos bancos médicos. Hoje, percebo que a cura para estas condições tem mais a ver com a maneira como nos sentimos em relação a cada uma delas, individual e coletivamente e o que faremos daí para frente. Sinto um calorzinho no coração, volto a pegar no teclado:

"A cura às vezes tem menos a ver com um combate frontal à doença ou condição do que com uma aceitação natural do que ainda não se pode ou jamais poderá ser mudado. As condições que julgamos limitar-nos talvez estejam aí justamente para nos ensinar a sua antítese – o amor incondicional – que, como o nome mesmo já diz, é amor que independe da condição, amor que transborda em nós e nos outros, por nós e pelos outros."

Talvez o meu irmão, mesmo doente, já esteja curado...


Martius de Oliveria

http://minhamestria.blogspot.com

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